Ficha de leitura nº 2

Referência Bibliográfica: GUERRA, I. (2002). A construção de projectos de intervenção. In GUERRA, I. et al. Fundamentos e processos de uma sociologia da acção: o planeamento em Ciências Sociais. (Cap. 7, pp. 125-162). Cascais, Principia.

Palavras-chave: Projecto, Intervenção, Gestão, Etapas, Dimensões, Diagnóstico.

Breve resumo do texto: O presente texto aborda a temática dos projectos de intervenção. Explicita o conceito de projecto, as suas etapas e as fases para o seu desenho. Especificando apenas a fase da Identificação dos problemas e diagnóstico, para que o leitor compreenda e sistematize o tema em questão.

Desenvolvimento: A realização de trabalhos por projectos é cada vez mais uma forma de conduzir acções que parece estar adaptada à intervenção na complexidade e na escassez de recursos. Porém, a boa vontade não é suficiente e para garantir o êxito de um projecto é necessário assegurar uma série de processos definidos pela autora. Guerra (2002) identifica assim as diferentes dimensões de gestão de um projecto, abordando apenas ao uma delas, o planeamento do projecto. Definindo-a “como a imagem antecipadora e finalizante resultante de uma sequência organizada de operações susceptíveis de conduzir a um novo estádio de realidade-objecto da acção” (Jean-Marie Barbier, 1991 cit. In Guerra 2002).

Um projecto é portanto a expressão de um desejo, de uma vontade, de uma intenção ou de uma necessidade a que se pretende atribuir uma resposta. É sobretudo, “a resposta ao desejo de mobilizar as energias disponíveis com o objectivo de maximizar as potencialidades (..)” (p.126). A autora refere que as etapas para a construção de um projecto podem ser apresentadas de várias formas, como por exemplo: emergência de uma vontade colectiva de mudança; análise da situação e realização do diagnóstico; desenho do plano de acção e concretização, acompanhamento e avaliação do projecto. Em situações reais, estas fases relacionam-se, e muitas vezes o diagnóstico, por exemplo, é já a intervenção, bem como a avaliação é um processo permanente que acompanha a execução. Para além das quatro fases referidas anteriormente, são ainda destacadas seis etapas essenciais para o desenho do projecto, entre as quais se encontra a Identificação dos problemas e diagnóstico, desenvolvida ao longo deste texto. Esta etapa é assim definida como a identificação dos problemas sobre os quais se deseja intervir e para que tal aconteça é necessário conhecer a realidade.

O diagnóstico consiste no conhecimento científico dos fenómenos sociais e na capacidade de definir intervenções que atinjam as causas dos fenómenos e não as suas manifestações aparentes. Ao realizar o diagnóstico é necessário identificar as mudanças sociais que formam determinada problemática sobre a qual iremos intervir. Relativamente a esta etapa, Guerra (2002) destaca a elaboração de um diagnóstico a partir da identificação dos problemas – análise de necessidades, sendo esta a fase de arranque de um projecto de intervenção. O diagnóstico ou análise de necessidades é definido como a identificação dos níveis de não-correspondência entre o que está (situação presente) e o que “deveria estar” (situação desejada). O conhecimento das dinâmicas sociais não é realizado de uma forma vaga, mas sim tendo em conta a detecção dos níveis de desajustamento, ou a detecção de necessidades e dos recursos que podem ser mobilizados. O diagnóstico é assim definido como o aprofundamento das dinâmicas de mudança, das potencialidades e dos obstáculos numa determinada situação, é um processo permanente e sempre participado.

Ainda respeitante a esta fase, são enunciados objectivos e funções do pré-diagnóstico que deveremos ter em conta. A autora define três operações incluídas na fase de diagnóstico: fase de pré-diagnóstico; fase de diagnóstico; e uma fase de hierarquização.  

Em relação à fase de pré-diagnóstico esta tem inúmeros objectivos, sendo estes: investigar e organizar a informação disponível sobre as necessidades e o grupo; determinar o enfoque principal do diagnóstico e o nível de aprofundamento do programa e construir compromissos entre os parceiros envolvidos para todas as fases. Ao longo desta fase pretende-se: identificar as questões-chave relacionadas com o diagnóstico; determinar áreas de conhecimento que serão necessárias para cada problemática-chave; identificar a informação já existente, a sua fonte, a qualidade e o período temporal e por fim, identificar que tipo de informação pode clarificar melhor o conhecimento da situação e identificar as fontes potenciais de recursos da informação e a metodologia para os obter. Os métodos utilizados para a recolha de informação durante esta fase de pré-diagnóstico são a análise documental e as entrevistas.

No que diz respeito à fase de diagnóstico, esta caracteriza-se pelo seu carácter sistémico, interpretativo e prospectivo. A elaboração do diagnóstico assenta na compreensão do carácter sistémico da realidade e envolve uma causalidade numa primeira fase sendo mais global e integrado numa segunda fase, quando o conhecimento das dinâmicas surge de forma mais interactiva. Os principais objetivos desta fase são: documentar em que estado está o sistema de acção face ao problema identificado; determinar a magnitude e a importância dos problemas e as suas causalidades potenciais e identificar questões-chave em torno das quais se pode formular a intervenção.

A definição de prioridades de intervenção, é outro dos pontos relacionado com a etapa da Identificação dos problemas e diagnóstico. Os principais objectivos desta fase são: estabelecimento de prioridades face às necessidades ou aos problemas identificados; estabelecimento de estratégias para satisfazer essas necessidades; estabelecer os critérios, considerar soluções alternativas; avaliar as alternativas e selecionar uma ou mais soluções.

Em relação às metodologias a utilizar no diagnóstico, é referido que as técnicas utilizadas devem procurar essencialmente as causalidades dos fenómenos sociais sobre os quais se pretende intervir, de forma a não agir sobre as evidências mas ser capaz de se aproximar dos fatores provocadores do fenómeno social em análise.

A construção de cenários como método de diagnóstico, é o último ponto enquadrado nesta etapa. Nesta fase, recorre-se frequentemente à análise prospectiva e à técnica de elaboração dos cenários para dar resposta a estas questões. As análises prospectivas baseiam-se no reconhecimento de que nos encontramos numa sociedade em acelerada mudança e de que essa mudança é multidimensional. Enquanto metodologias de trabalho, estas análises tentam responder a essas necessidades visando determinar futuros prováveis de futuros possíveis. Os autores Michel Godet e Jean-Claude Duperrin elaboraram um conjunto de programas informáticos para a análise de cenários, tendo em conta três fases: a análise estrutural, a estratégia de atores e a construção de cenários.

Reflexão crítica: Este é sem dúvida um texto bastante útil e importante para a disciplina de Seminário de Integração Profissional IV. Uma vez que o objectivo da presença na Instituição é a construção de um projecto de intervenção, a leitura de textos como este, vem ajudar-nos e dar-nos algumas matrizes no que diz respeito à planificação e ao entendimento do nosso próprio projecto e de como devemos fazê-lo. Primeiramente, o texto ajuda-nos a compreender o conceito de projecto, a importância do seu desenvolvimento, as suas etapas, entre outras ideias. Estes são aspectos fulcrais para que possamos desenvolver um projecto de qualidade, uma vez que é necessário primeiro conhecer a teoria para posteriormente pô-la em prática. A fase de diagnóstico, explicada ao longo do texto, é considerada como a fase de arranque de um projecto de intervenção (e por isso das mais importantes), uma vez que é durante ela que compreendemos todo o contexto, os recursos disponíveis, as necessidades do local, entre outros aspectos. Foi exactamente essa a fase que desenvolvemos ao longo deste semestre, compreender o contexto onde nos inserimos, as potencialidades, os constrangimentos, as necessidades e a partir daí construir uma planificação para a nossa intervenção. 

 

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