Avaliação formativa

A palavra avaliação é só por si, um termo carregado de complexidade e ambiguidade, a que poucas pessoas reconhecem importância. Avaliar significa, determinar o valor de algo, compreender, apreciar, prezar, entre muitas outras definições, sendo na maioria das vezes associado a um julgamento, a algo negativo que comporta constrangimentos e frustração, tanto para o avaliador como para o avaliado. Como tal, muitos são os autores que abordam esta temática, porém o autor Domingos Fernandes é bastante referenciado nesta área, sendo aqui que irei focar a minha reflexão. Esta é uma temática sobre a qual gostaria de falar, uma vez que se caracteriza pela sua dificuldade e desconhecimento, sendo notada uma lacuna geral relativamente à mesma.

Deverá ser realizada avaliação? De que forma poderá ser realizada? Será que a avaliação poderá servir para a melhoria das práticas? Tudo isto são questões debatidas nesta área e muito se fala acerca delas. A Escola não é excepção, e portanto a questão da avaliação é amplamente discutida e abordada em todos os seus segmentos, tanto externos como internos. A construção de uma teoria de avaliação formativa que oriente, fundamente e melhore as práticas de avaliação na sala de aula é um aspecto bastante pertinente sobre o qual o autor escreve. Ao falarmos de uma teoria de avaliação formativa facilmente se percebe o papel desta teoria na melhoria das aprendizagens dos alunos, aspecto já bem estabelecido pela investigação empírica. O autor na abordagem deste tema, desenvolve cinco secções: clarificar, integrar, definir, teorizar e reflectir.

No que diz respeito ao termo clarificar, o autor menciona que a avaliação formativa tal como era entendida anteriormente pouco tem a ver com a avaliação formativa de que falamos hoje. Anteriormente tratava-se de uma visão mais restrita, centrada em objectivos comportamentais e nos resultados obtidos pelos alunos, sendo pouco interactiva e realizada após um longo período de ensino e aprendizagem. Actualmente, trata-se de uma avaliação bastante complexa, mais sofisticada e interactiva, centrada nos processos cognitivos dos alunos, associada a processos de feedback, regulação, auto-avaliação e auto-regulação das aprendizagens. Quando se fala acerca desta designação pode colocar-se a questão de saber a qual dela nos referimos, uma vez que para muitos professores ainda se encontra mais presente nas suas práticas aquela que referimos em primeiro lugar, apesar de todos os desenvolvimentos já ocorridos.

Relativamente ao termo integrar, discutem-se duas fortes tradições teóricas e investigativas no domínio da avaliação formativa: a tradição francófona e a tradição anglo-saxónica. No que respeita à tradição da investigação francófona, a avaliação é vista como uma fonte de regulação dos processos de aprendizagem, sendo a palavra regulação o conceito-chave desta tradição. O feedback tem também um papel primordial neste tipo de avaliação. Os alunos têm um papel mais central, mais destacado e mais autónomo, funcionando a avaliação formativa como um processo de auto-avaliação com a interferência do professor bastante reduzida. Os investigadores anglo-saxónicos abordam este tipo de avaliação numa perspectiva mais relacionada com o apoio e a orientação que os professores podem prestar aos alunos na resolução de tarefas e no desenvolvimento das aprendizagens previstas no currículo. Ou seja, é um processo pedagógico muito orientado e controlado pelos professores, destinado a melhorar a aprendizagem dos alunos.

Associado ao termo definir, estão os resultados da investigação que sugerem que as práticas de avaliação são pobres apresentando algumas insuficiências e problemas, tais como: a convicção por parte dos professores de que a partir dos testes avaliam aprendizagens profundas; a correcção e a classificação de testes e de outras tarefas avaliativas dão poucas ou nenhumas orientações aos alunos para melhorar; a tendência para se pensar que avaliação desenvolvida pelos professores na sala de aula é de natureza formativa embora poucas vezes seja assim; a avaliação formativa é muitas vezes considerada irrealista no contexto da escola e de sala de aula; a tendência para comparar os alunos levando-os a crer que um dos propósitos da aprendizagem é a competição em vez do desenvolvimento; entre outros aspectos. Nestas condições o feedback avaliativo acaba por reforçar junto dos alunos com mais dificuldades a ideia de que não são competentes, levando-os a crer que não são capazes.

Surge então o conceito da avaliação formativa alternativa (AFA) que deve permitir conhecer bem os saberes, as atitudes, as capacidades e o estádio de desenvolvimento dos alunos, que lhes deve proporcionar simultaneamente indicações claras do que é necessário fazer de seguida. No caso de ser necessário corrigir algo ou melhorar as aprendizagens, torna-se fundamental que os professores e alunos partilhem as mesmas ideias ou pelo menos aproximadas, daquilo que é a qualidade que se pretende alcançar.

Relativamente ao termo teorizar, o autor refere que a resolução das situações acima mencionadas ou o enfrentar de problemas relativos ao desenvolvimento de uma avaliação formativa alternativa na sala de aula requer algum esforço de elaboração de natureza teórica, sendo muitos os autores que a abordam e aos quais Domingos (2006) se refere. A avaliação não é uma disciplina exacta e provavelmente nunca o poderá vir a ser, definindo-se como um processo desenvolvido com seres humanos e para seres humanos, envolvendo valores morais e éticos, juízos de valor e problemas de natureza sociocognitiva, psicológica, entre outros. Apesar da inexistência de uma teoria sólida, já existe um corpo teórico, que tem informado e que irá continuar a informar práticas de avaliação formativa que melhoram efectivamente as aprendizagens.

Por fim, relativamente ao último ponto reflectir, é referido que existem três resultados da investigação empírica sintetizados, são eles: os alunos que frequentam salas de aulas em que a avaliação é de natureza formativa aprendem mais e melhor do que os alunos que frequentam aulas em que a avaliação é na sua maioria sumativa; os alunos que não beneficiam da utilização deliberada da avaliação formativa são aqueles que têm mais dificuldades de aprendizagem; e por fim, os alunos que frequentam aulas em que a avaliação é formativa obtêm melhores resultados em exames do que os alunos de avaliação sumativa. Apesar destes resultados, continua a ser difícil os professores desenvolverem nas suas salas de aula, práticas de avaliação formativa, o que na minha opinião continua a ser um aspecto bastante visível e presente no nosso Sistema Educativo. Esta situação pode ocorrer, segundo o autor, devido a diferentes razões: limitações da formação dos professores, dificuldades na gestão do currículo, pressões da avaliação externa, extensão dos programas escolares, entre outros.

Actualmente está ao alcance das escolas, dos professores e dos seus alunos melhorar aquilo que se aprende e como se aprende. A avaliação formativa, é um processo pedagógico para apoiar crianças e jovens que sentem a frustração, o desânimo, o abandono escolar e a exclusão social. É por isso que é necessário reforçar a ideia de avaliar para aprender para enfrentar as questões complexas da educação contemporânea.

Pode concluir-se que a avaliação em geral e, especificamente em contexto de sala de aula correspondente às aprendizagens dos alunos, continua a constituir e continuará como o próprio autor refere, uma temática bastante complexa. Porém, se for guiada segundo alguma teoria em consonância com o esforço e empenho dos seus intervenientes, será possível realizar um interessante trabalho que contribuirá concerteza para uma prática colaborativa e de melhoria do desempenho dos alunos. 

https://www.youtube.com/atchw?v=yp75QVrFhTg - vídeo sobre o tema

Referência bibliográfica:

  • Fernandes, D. (2006). Para uma teoria da avaliação formativa. Revista Portuguesa de Educação, 19(2), pp. 21-50.

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